sábado, 20 de julho de 2013

delicatessen russa



a montanha é
russa

dança russa
é cossaco

a roleta é
russa

salada russa
é maionese

o Renato é
Russo

boneca russa
é matrioshka

mas se quero a vodca
tenho que pedir por во́дка
e concluo que a língua russa
é, acima de tudo, a coisa mais
ruça

sábado, 13 de julho de 2013

sinusite



de tanto mascar repolho
fiquei surdo de um olho

espremem os ossos orofaciais
o sumo amarelento
de caráter grudento
que é peneirado lento
pelas vibrissas nasais

no debate público
quis me candidatar a
presidente da república
sem poder dar minha tréplica
e tripliquei as súplicas
para degustar uma música
com cheiro de verde-púrpura

na autoinsolubilidade
acabei me solvendo
em aroma de inflamação
vendo, vivendo e revivendo
a cicatriz da mesma lesão

pus um capuz
no pus da pústula
pois a cura infecciona
quem a interprete

antibiótico-me
porque não desfolho chiclete

sábado, 6 de julho de 2013

dia seis



dia seis
final da semana
início do mês

dia seis
apareces por acaso
desaparece a lucidez

dia seis
direciono um olhar caloroso
desvias daquilo que não vês

percebo como é complexa
a simplicidade do dia seis

és um fantasma
que me faz sobrar emoção
que me faz faltar ar em asma

és um fantasma
uma figura inexpressiva
que deixa minha expressão pasma

és um fantasma
e transforma em preto e branco
minha televisão de puro plasma

auge da saudade do que não vivi
sentimento catafórico
égua que dá esse coice de rotina
sentimento anafórico

sábado, 29 de junho de 2013

caminhão de lixo



foi uma manhã de descapricho
meu motor ligou com o diesel gelado
não tive vontade de entrar em movimento
mas a garagem empoeirava minhas velas

chegou o esquadrão de flanelas
a pancada de homens montou em mim
lixeiros que puxavam meu cabelo para se segurar
e a vontade de chorar me fazia poluir o ambiente

dominava-me interexternamente
o cheiro forte do elemento pútrido
expelido do tanque, expelido do coletor
e alimentavam-me com mais sacos 

passou um carro forte — e eu o fraco
prensando os sentimentos em angústia
as placas de ferro, os ossos quebrados
o coração, duas taças vazando chorume

o sonho que nos faz perceber
que não superamos uma fase que pensamos ter superado
é o sonho que nos faz perceber
que superamos a fase em que gostávamos de ter sonhos

havia lixo líquido degenerando em mim
havia lixo sólido sobrecarregando a mim
havia tanto lixo e manda mais pro lixo
e era tão demais prolixo
pois eu era o maior dos lixos

sábado, 22 de junho de 2013

iogurte de abacaxi



o rótulo exótico chamava atenção
dei um gole direto do frasco
iogurte com sabor de abacaxi
se fez de gostoso ao paladar
mas o líquido caiu sólido na barriga
gerou o mal-estar do café da manhã
indigestão cafeína
insatisfação cafetina

de repente passou na minha frente
o motivo das minhas gastrites
a mais plebe das minhas paixões
que de tão prosaica se tornou
poesia de elite
e o iogurte retornou do intestino

um átomo subiu da unha do dedão do pé
um átomo desceu da moleira da cabeça
e se encontraram em big bang na boca do estômago
espatifando-se em poeira microatômica
coleção de prótons, nêutrons e elétrons
penetrando coração, garganta, rim
e perdendo apenas para a acidez
do iogurte de abacaxi

sábado, 15 de junho de 2013

hife-



as microondas se amavam
e o calor desse sentimento
aquecia até alimento

mas um dia se divorciaram
chamaram o travessão
foi cada um para um lado
os olhos arregalados
o—o

nova onda
micro—ondas

depois disso
o micro saiu com o ônibus
e o eletro dançou com as ondas
mas micro—ônibus e eletro—ondas
não conseguiam se abraçar

então tomaram a decisão
micro e ondas iriam reatar
voltariam a ser microondas
o problema era que o
tra—ves—são
não podia mais se deslocar

uma vez colocado
eternamente travessionado

então micro e ondas tiveram uma ideia
e fizeram força para se aproximar

micro—ondas
micro–ondas
micro-ondas

não conseguiram fazer o traço cair
mas conseguiram encurtá-lo
e o hí-fen
mais incerto do que galo
lhes deu a esperança
de um dia poderem se beijar

sábado, 8 de junho de 2013

image



imagem
do livro
de Da Vinci
no porta-retrato
de Nossa Senhora

imagem
do Rio
da televisão
em alta definição
da sua camiseta

imagem
de Deus
do ex dando adeus
da educação brasileira
da atriz que posou nua

i
ma
gem

enigma

imagem
e semelhança
tão pálida
em jpg
de um osso quebrado

imagem
a primeira que fica
a vista da sacada
a da poesia estilizada

imagem
chuviscada

imagem
figura de linguagem

imagem

sábado, 1 de junho de 2013

madrugada de novembro



a vassoura 
varreu com tudo
as estrelas
para dentro do
chapéu pontiagudo

adeus, outubro!

o crucifixo
cruza que inda lembro
e os espíritos santos
colhem as dores
e guardam segredo

olá, novembro!

a pétala vermelha
desabrocha cheirosa
um veludo púrpura
na pele mimosa

na madrugada chuvosa
o coração poético
se refaz em prosa
e a poesia entrosa
um chá
de rosas

sinto em mim
um novo membro
novembro

curto o momento
enfrento a saudade
e apenas relembro

sábado, 25 de maio de 2013

pudim de leite



o pudim saiu do forno
foi desenformado
ainda morno
e finalizado com calda
de açúcar caramelado

branco e tinha coco
era consistente
não estava oco
nem perfeito porque
faltava um ingrediente

tirei um bocado
não o senti decifrado
um conto complexo
pontuação de Saramago

cheiro quente
gosto de branco
brincava com as papilas
mas um doce incompleto

insisti na insistência
colher pós colher
e assim foi engolido
do princípio à cauda

o último pedaço
tocou a campainha
da garganta
e abri a porta
do refrigerador

achei a ameixa seca
e de que adianta
se o pudim já acabou?

sábado, 18 de maio de 2013

coração de framboesa



meu coração é
feito de framboesa
feito sobremesa
perfeito para provocar
o efeito de prazer

minha emoção
está conforme a framboesa
está conforme a estação
de rádio
de trem
do ano
que vem

meu coração é oração
pai nosso, ave-maria
creio-em-deus-pai por nove dias
dessas que a gramática não explica
sem padrões sintáticos
mas que faz acontecer
por eu acreditar que acontece

meu coração é ração
pulsa me alimentando
e me mantendo vivo

meu coração é ação
mal pensa em mim
verbo defectivo

meu coração é ção
mas insiste hipocondriacamente
em se fazer de doente

meu coração é ão
no aumentativo
pois se compadece por tanta coisa
que parece não ser limitado
um polígono com milhares de lados
por isso sofre em múltiplos

meu coração é o
definido masculino
só sendo macho para suportar
tanta dor
tanto amor
e tanta rima clichê

meu coração é coração
em seus menores detalhes

sábado, 11 de maio de 2013

encapetado



pega o demônio pelo rabo
e sacode
dá-lhe um chute, pisa-lhe a cara, aperta-lhe o pescoço
arranca-lhe os chifres e depois sorri
senta e o convida para um chá

conversa com ele em voz alta
em língua de capeta
infernarium fogarentus
espera que ele revele
os teus segredos
entre as mordidas duma bolacha maria

recebe na cara o vômito da verdade de ti
descobre que não passas de um pelo púbere
que tua vida não será intacta para sempre
e deixa que a frustração escorra-te na alma
como o esperma escorre nos dedos de um adolescente

pega o demônio pelo rabo
e sacode
arranha-lhe o rosto, quebra-lhe as pernas, cospe-lhe no olho
espreme-lhe os testículos e enfia-lhe três dedos no cu
depois espera que ele sorria e te convide para um chá

sábado, 4 de maio de 2013

Em centímetros e polegadas



De que adianta terem inventado o famoso ditado que diz que “tamanho não é documento” e, posteriormente, a analogia de que “se tamanho fosse documento, o elefante seria dono do circo”, se menino não acredita em nada disso? A maioria nem toca no assunto, mas mantém em sigilo a preocupação de, se um dia, conseguirá urinar no vaso estando em pé na porta do banheiro.

A puberdade mal toca a campainha, e o garoto já fica todo no estica-e-puxa para saber se o pinto vai crescer logo. Na primeira ereção em que ele está sozinho em casa, corre pegar uma fita métrica para saber qual seria o número da camisinha, se ela fosse vendida como os calçados. Põe a fita em cima, embaixo, do lado, “rouba” alguns milímetros e, mesmo assim, não se contenta com o resultado que não lhe parece um número muito alto.

Como ainda não tem muita noção de qual é a média do tamanho, usa a internet para descobrir: imagina-se como o africano, ri do japonês e, depois, fica constrangido ao saber que os homens do Brasil não ficam muito além dos do Japão. Pelo menos, depois disso, ele já tem um valor fixo, uma meta que precisa atingir o mais breve possível, pois senão a adolescência acaba e ele não se contentará com o resultado final.

Sempre que pode, ele olha para o lugar e tenta medir com o olho, para saber se cresceu. Tem a impressão de que seu pequeno Pokémon está sofrendo um processo de evolução e torna a pegar a régua, mas o tamanho é o mesmo. Converte em jardas e polegadas, mas os números obtidos ainda parecem insuficientes para fazer a alegria da garota que ele quer pegar.

Chega uma hora, então, que a mente mergulha tão profundamente no mar da curiosidade que ele resolve comparar. Sabe que o vestiário não é o lugar mais aconselhável, já que, nos chuveiros, está todo mundo com o pinto mole e assim não dá para ter ideia de nada; por isso, usa novamente a internet. Vê fotos de revistas e visita sites que promete nunca mais entrar — exceto quando outras dúvidas surgirem.

O cara do filme pornô que parece uma tora e o galã da capa do mês de agosto que poderia ser louvado por aborígenes adoradores da Grande Mandioca, entretanto, não são boas referências: primeiro porque são modelos contratados com foco unicamente nisso; segundo que um editor de imagens pode ter aumentado as coisas. O garoto precisa ver fotos de gente normal e roda o site de busca até se encontrar com um site em que os usuários colocam as fotos para que o visitante avalie.

Sem pensar muito — não há cabeça para isso no momento —, ele se passa por maior de idade, fingindo ter cinco anos a mais do que realmente tem, e cria uma conta. Levanta-se da cadeira, abaixa o short e direciona a webcam num ângulo que favoreça os países baixos. Registra a imagem e publica a foto com o pseudônimo gatinho_teen13. Fica meio receoso, com medo de ser descoberto, mas atualiza a página de dez em dez minutos.

As notas começam a ser dadas e surge o primeiro comentário: “Delícia, hein?! Chuparia todinho!” Não sabe de quem foi nem de onde veio, mas isso é o que menos importa. As palavras, mesmo xucras, fazem o garoto se sentir com uma arma superpoderosa entre as pernas. Antes de excluir a foto e negar até a morte o que havia feito, pega a régua novamente e, misteriosamente... parece que, enfim, aumentou meio centímetro.

sábado, 27 de abril de 2013

Nojo de menina



Menino tem nojo de menina, tal como o Super-Homem tem medo de kryptonita. O guri das cavernas, por exemplo, morria de raiva quando a melequenta cavernosa vinha com uga-ugas para cima dele, querendo brincar de pique-mamute (uma versão pré-histórica do esconde-esconde na qual a parede é um elefante peludo). Isso não seria problema se ela respeitasse o jogo e não espiasse, entre os pelos do animal, o esconderijo do menino. Depois, ainda por cima, se ele ficava cheio de grrrrrs, era ela que o enchia de mordidas.

Se menino e menina nascessem para se dar bem, Deus teria criado Adinho e Evita; como fez um casal de adultos, deixou a entender que ele já sabia que, abaixo dos 10 anos, seria guerra na certa: ela, jogando maçãs na cabeça dele, e ele pregando o maior susto ao colocar a serpente perto dela; ela cantando com as formigas e cigarras: “Aqui no Éden, os machos fedem...”, e ele retrucando com os javalis e suricatos: “Quer ser toda princesinha, mas saiu de uma costela minha...”

Os tempos modernizaram, mas a situação continua a mesma. Menino tem nojo de tudo que seja da menina: ele se irrita com a caneta que escreve em cor-de-rosa brilhante e tem uma pluma pendurada; fica com vontade de vomitar com o perfume fedorento que ela usa; quer rasgar em pedacinhos a revistinha com o teste de “descubra se ele ama você”... 

Só que então chega o dia em que o guri das cavernas sente carinho na mordida da melequenta cavernosa, em que Adinho convida Evita para o primeiro dueto do Paraíso. É o dia em que a menina põe a caneta na covinha dele e faz cosquinha, que o aroma dela se torna gostoso para o nariz do menino e que ele bem que gostaria de ter um teste que respondesse se ela o ama.

A paixão sai de algum lugar do corpo que o menino nem sabia que existia e pousa do lado esquerdo do coração — de tão rara, é canhota! Ele diz que não, bate o pé, afirma que menina não tem nada que preste e prefere a companhia dos amigos machos. Mas quando chega em casa, joga a mochila em qualquer canto do quarto e deita na cama com o fone nos ouvidos, prestando atenção na letra de uma música pop-romântica que nunca esteve acostumado a ouvir.

No grito da mãe para ir almoçar, o “calma aí!” sai com a certeza de que não terá pressa para se levantar dali. Gosta de pensar na menina nojenta, chata, irritante, insuportável, mas que faz ele se sentir bem. Decide, então, que vai ser nojento, chato, irritante e insuportável na mesma proporção, para saber se consegue prolongar o sentimento que ele não sabe o que é.

Após dias e mais dias de muita nojeira, chatice, irritação e atitudes insuportáveis — por parte dele, propositais, e por parte dela, apenas para ele —, ela se cansa e dá um tapa na cara dele. Ele fica imóvel por alguns segundos e revida dando um chacoalhão nela. Ela grita. Ele berra. Ela pisa no pé dele e tenta sair. Ele a agarra pela cintura e impede. Os dois se olham com raiva. Os lábios se encontram.

O selinho acontece do nada, na situação mais inusitada possível. Ele sente um pouco do que pensa ser nojo, mas é só o lado esquerdo do coração falando mais alto. Ambos se afastam e fingem que nada aconteceu. Do outro lado do muro, um amigo que brincava de pique-mamute moderno vê a cena e espalha para a escola inteira. Quando vão perguntar, ela nega. As amigas acreditam nela, afinal, menina tem nojo de menino.

sábado, 20 de abril de 2013

Belinho



Pentelho é uma palavra escrota, e o adjetivo poderia ser, muito bem, um advérbio, já que indica o lugar exato em que eles crescem. Há pessoas educadas que preferem chamá-lo de pelo pubiano, outras mais escrachadas optam por cabelo do saco; aqui, para zelar pela estética do texto, ele será conhecido apenas por Belinho. E quem estiver lendo que julgue a qualidade literária desse batismo!

Por volta dos 10 anos, o menino já sabe que vai passar por essa mudança e que essa será a primeira de muitas, então começa a obsessão à busca do tão sonhado Belinho. Todo dia, durante o banho, ele examina muito bem o local: olha por cima, olha por baixo, levanta, joga para o lado... e não encontra nada. Algumas vezes, ele chega a pegar um urso de pelúcia antigo ou o cabelo da boneca da irmã e põe no púbis para simular como ficará.

No fundo, o garoto se consola com o pensamento de que “daqui a pouco nasce”. Conforme os dias vão passando e o daqui a pouco demora a chegar, a vontade de ficar peludo aumenta gradativamente. De tempo em tempo, ele dá um jeito de correr até o banheiro e olhar para baixo, para saber se o Belinho já chegou. Quando, ocasionalmente, empina pipa com os amigos, inventa uma desculpa para fazer a verificação.

— Vou ali dar um mijão no muro, já venho!

E mesmo com a bexiga tendo sido esvaziada meia hora atrás, ele fica de frente para a parede de tijolos, espia para confirmar que ninguém está espiando, e puxa o short para frente, junto com a cueca, na esperança de que já haja algum sinal de que a puberdade deu boas-vindas. Mas não acha nada, volta o short no lugar e retorna para desembaraçar a rabiola como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, outro amigo já se afastou com a mesma desculpa mictória.

Chega, então, um dia em que ele acaba se esquecendo dessa fissura e vai dormir. Quando acorda e vai para o banheiro no primeiro minuto da manhã, tem a surpresa: o Belinho está lá! Depois de longos meses de espera, os hormônios decidiram dar um presente, que ele faz questão de contar ao melhor amigo assim que o vê na escola.

— Já nasceu.

— Quem nasceu?

— O Belinho.

E o amigo fala instintivamente: “Viado, você teve primeiro do que eu!” ou: “Bem-vindo ao grupo, só que o meu já tá enrolando.” Após o bate-papo, o menino, que era criança, está oficialmente adolescente e pode passar os dedos nos fios corporais e fazer cafuné nas partes baixas até cair no sono.

O Belinho cresce, engrossa, fica em maior volume e começa a subir pelo umbigo. Passa um mês, passam dois, passam três — em alguns casos, passa até um pouco mais de tempo — e a novidade acaba. O menino espera até que todos saiam de casa, corre ao banheiro, pega a gilete que a mãe usa para raspar a perna e faz todo o circuito que vai do umbigo às coxas. Manda ralo abaixo qualquer vestígio que lembre o Belinho e volta a ter aparência de dois anos atrás.

sábado, 13 de abril de 2013

Kit Deixa Feliz



— Pergunto-te: o que te deixa feliz?

— Eu?

— Respondo-te: o Kit Deixa Feliz!

— Oi?

— O Kit Deixa Feliz atende todas as suas necessidades, a fim de proporcionar muito mais felicidade. Como, por exemplo, o melhor para sua cozinha!

— ...

— Garfo Dido: os dentes que faltavam na sua boca.

— ...

— Faca Gado: basta deslizar sobre o bife.

— ...

— Colheres Pupunha: finas... como uma lasca de unha!

— Pupunha?

— Sim, e agora em três tamanhos: a tradicional Pupunha, a Pupunhona e a Pupunheta. Esta é ideal para aqueles momentos em que você precisa mexer o ovo, antes de pincelar o alimento.

— ?

— Pupunheta: quando você for bater gema!

— !!!

— Mas o Kit Deixa Feliz também traz produtos encontrados diretamente no cosmos: os cosméticos.

— Perdão, mas eu...

— Fixador de Cabelo Viagra Hair: deixa seu cabelo duro e em pé!

— ...

— Antiacne Filé de Tilapia: sem espinhas!

— ...

— Desodorante Trava Língua: você sem cecê!

— Meu senhor, eu...

— E inspirado na série de livros e filmes “Crepúsculo”, os inventores do Kit Deixa Feliz enfrentaram o maior rolo, mas conseguiram trazer especialmente para você o primeiro papel higiênico no aroma pinho.

— ?

— Papel Higiênico Cullen: porque, com Cullen Pinho, você é muito mais feliz.

— !!!

— O Kit Deixa Feliz também pensa nos seus estudos, por isso ele traz a melhor seleção de materiais escolares.

— Sinto muito, senhor, mas...

— Lápis Ponte: também conhecido como Ponte Pencil.

— ...

— Caneta Pena de Galinha: não escreva; bique!

— ...

— Borracha Confissão: a única que apaga todos os seus erros.

— ...

— Cola Ex: a melhor para a escola.

— ...

— Tesoura Joquempô: só perde para a pedra.

— ...

— Folha Sulfite...

— ???

— E também Nortefite, Lestefite e Oestefite: abrangendo toda região que existe.

— Desculpe-me, mas...

— E não podemos nos esquecer do Superdicionário Vó Zides, cuja ortografia é tu que decides.

— Vó Zides?

— Eu vou, tu vais, ele vai, nós vamos... Que chato! Vó Zides é que é um barato!

— É tudo muito bonito, mas realmente eu não tenho interesse...

— Ah, e adquirindo hoje o Kit Deixa Feliz, você leva mole, mole um ano de assinatura grátis da Revista Me Olhe. Não VEJA mais as notícias de sempre sobre a sua cidade; Me Olhe traz apenas manchetes de qualidade!

— Você disse “grátis”?

— Mole, mole!

— Um ano inteirinho?

— Todos os exemplares, vindos direto do Mercado Deus Me Livre.

— Tá bom, eu fico com o kit!

sábado, 6 de abril de 2013

Crônica resumida



q coisa + irritante esse laptop que soh da dor de kbca ! agr a maravilha do plug resolve quebrar e a fonte para de trnasmitir energia. a bateria acaba e sou obg a escrever nas minusculosidades deste celular. com os dedos grossos q tenho, n duvido q o txt fik com alguns (e algoutros) erros de digitacao. a vdd eh q nuna tive sorte com produtos eletronicos. se duram + de 6 meses na minha mao, eh 9dade. se duram + d 1 ano, entao, posso ateh elogiar mto no twitter. e tbm n adianta comprar aquele marketing da garantia estendida q, dps do 1o. defeito, vem um segudio do outro. teve uma vez que resolvi comprar um celular desses site compredachina q existem com os mais variados dominios de url. o site dizia que a entrega seria em 15 dias, por apenas 99 reais, num iphone (ou "hipone", como eles chamavam) branco e ultramoderno. dps de longos 4 meses de espera, o cel chegou. ficou preso no correio e me arrancou ums taxa de 87 reais para a alfandega. veio a cor preta, durou 8 dias e a loja sequer retornou meus e-mails d desespero. no fundo, essa tragica perda de dinheiro foi suficiente para eu aprender a n comprar em loja que n emita nota fiscal. agr tenho um cartao da submarino e compro somente no e-commerce legalizao. :) este cel em q escrevo, p.ex., eh branco, ultramoderno, samsung e ainda me foi vendido por 20% de desc pq sou cliente vip da loja. aqui chega o momento da cronica em q, no pc, eu criaria links. falaria do mp5 que sofreu blecaute, do cel q ficou mudo d repente, do note cuja bat era uma bexiga q tinha q urinar a cada 5 min (e  esvaziava total), do radio q soh funcionava se ficasse segurando a antena... mas me encerro por aqui. os polegares ja tao doendo e eles n tem nem garantia de fabrica.

sábado, 30 de março de 2013

Eliana



Houve um momento, na entrevista coletiva de emprego, em que a psicóloga nos perguntou: “Quem você considera um herói?” Nesse momento, começaram os clichês: “Meu pai, que foi cangaceiro!”, “Minha avó, que levava água até o sertão!”, “Dom Pedro I, que nos tornou independentes!”, “O dono desta empresa, que é um homem sério, culto e responsável!”, etc. Quando chegou minha vez, disparei: “Minha heroína é a Eliana!” e recebi os olhares mais assustadores possíveis, como se eu cometesse um crime inafiançável por venerar uma apresentadora de televisão.

Não posso discordar de que meus pais foram verdadeiros guerreiros por terem me colocado no mundo e suportado tanto sufoco comigo; que minha avó foi uma batalhadora por cuidar de um bebê chorão que só sabia pedir suco de banana-maçã; que o dono da empresa foi um notável conquistador, pois conseguiu transformar uma lojinha do interior em um grande império empresarial... Porém nenhum desses se compara à Eliana.

Ai de meus pais se souberem desse meu pensamento... Ai de mim! Mas se formos elencar os motivos, quem era que me fazia companhia toda manhã, ainda que pela tevê, enquanto todo mundo saía para trabalhar?, quem transformava minhas lágrimas infantis de mamãe-já-tô-com-saudade em sorrisos inocentes?, quem foi que me ensinou a dizer “por favor” e “obrigado” e a usar tesoura sem ponta?, quem até hoje tira o tédio dos meus domingos e diverte meu estresse com quadros interativos e humor inteligente?

Os olhares continuavam ameaçadores, e eu fui obrigado a repetir: “A Eliana.” A psicóloga deu uma chacoalhada de cabeça e me fitou ainda incrédula. Especifiquei: “Eliana, a apresentadora, a loira, a dos dedinhos, ex-patotinha, mãe do Arthur, esposa do João Marcelo, cunhada da Maria Rita, embaixadora do Teleton...”

Alguns riram baixinho; outros faziam cara de bravos, como se eu estivesse levando tudo na brincadeira. A psicóloga mantinha a pose de psicóloga, indecifrável, mas que talvez fosse uma amostra de que estava gostando. Mas não estava. Não me contrataram. Alegaram que sou adulador demais e deram o cargo ao rapaz que escolheu o dono a empresa como resposta.

sábado, 23 de março de 2013

A maldição do peitinho



Nunca fui o tipo de cara que andava sem camisa, especialmente nos anos iniciais da adolescência. Mesmo que eu quisesse aliviar o calor ou pegar um bronze, decidia poupar a visão das outras pessoas, já que meu físico só interessaria a uma aula de ciências sobre análise de ossos torácicos. O único momento em que podia ficar despido sem causar danos aos olhos alheios era na hora do banho, e foi numa dessas duchas que constatei o fato: estava crescendo um peitinho.

O fenômeno aconteceu apenas no lado direito — o mamilo inchado, saliente. Olhava para aquilo e não sabia dizer se era um terceiro testículo que estava nascendo no lugar errado ou se alguém havia implantado uma pequena prótese de silicone enquanto eu dormia. Lembrei que já tinha ouvido que alguns meninos tinham “fimose”. Fiquei pensando se a palavra “fimose” queria dizer o mesmo que peitinho; mas as imagens nada bonitas que a internet me mostrou me fizeram perceber que esse não era o meu caso. Enumerei, portanto, três hipóteses sobre o que poderia estar acontecendo.

A primeira era que eu havia nascido hermafrodita. Provavelmente, enquanto bebê, uma cirurgia me deixou apenas com os órgãos sexuais de homem, mas, com o avanço da puberdade, meu lado feminino — como se as coisas funcionassem cientificamente assim — estava se desenvolvendo. Eu passaria a ter um único seio e, talvez, a menstruar pelo nariz ou pelo ouvido, além, é claro, de me tornar manchete no telejornal de domingo.

Outra ideia, ainda mais esquisita, era a de que alguém que não gostava de mim havia jogado uma maldição: a maldição do peitinho! Depois de uma reza braba feita com vaca preta em vez de galinha, eu estava condenado a ter um mamilo que inflaria como balão e um dia explodiria como um furúnculo gigante.

A última tentativa de justificar a situação era a de que eu estava com uma espécie de câncer de mama masculino. E isso começou a me preocupar tanto que fui ao médico. Chegando lá, mostrei o carocinho para ele.

— Doutor, é grave?

Ele sorriu e disse que era apenas um caso de ginecomastia, que acontecia com quase todo menino, que era uma concentração de hormônios, que logo voltaria ao normal, nada mais do que isso. Insisti:

— Tem certeza que não é macumba?

A boca dele tornou a dizer que não era nenhuma anormalidade, mas garanto que a mente pensou na seguinte resposta: “Esses adolescentes...”