sábado, 11 de dezembro de 2010

πercings


Tinha 15 anos. Por mais que aparentasse ter 17 (ou mais), a cédula de identidade e a certidão de nascimento provavam que ele ainda iniciava a segunda parte das cinco que compunham sua vida. Embora na flor da idade, não fumava, não ingeria bebidas alcoólicas, não usava drogas, não gostava de tatuagem... Apenas morria de vontade de fazer um piercing.

Ele via as outras pessoas usando, achava bonito e queria igual. O maior problema, no entanto, era encontrar o lugar mais indicado para perfurar. Por algum motivo, pensava em fazer um piercing na ponte do nariz, a formação óssea acima da cavidade nasal, parte que fica entre os olhos. Mas, por algum outro motivo, sabia que não combinaria consigo — o formato do rosto, o cabelo longo, a cor branco-pálido... Algo em si provocaria desarmonia com uma argolinha na ponte.

Parou e começou a analisar parte por parte do corpo: sobrancelha, orelha e umbigo eram lugares muito comuns; clavícula, calcanhar e atrás do joelho eram muito incomuns. Chegou a pensar em colocar nos órgãos genitais, mas que graça teria? Quem iria ver? Nem namorada ele tinha.

Essa situação-problema precisava ser resolvida, e ele teve a genial ideia de usar a matemática, a matéria que mais gostava, para ajudá-lo. Esboçou um gráfico com a própria silhueta, calculou perímetro e área, achou os ângulos, raios e diâmetros possíveis; somou, subtraiu, dividiu; multiplicou... Fez contas que muitas pessoas nem sabem que existem. O resultado, portanto, saiu com 100% de precisão: o ideal seria fazer um piercing na franja.

Sem pensar duas vezes — o cérebro já havia se cansado de pensar —, juntou as economias que guardava num pote de biscoitos e foi para o studio de piercing confiável mais próximo de sua casa.

Desde então, há quem diga que ele usa presilhas; ele garante que são piercings!

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