sábado, 2 de junho de 2012

Barra Fixa


Petrix Barbosa subiu na barra para tentar o ouro, nas disputas individuais de ginástica artística. A regata amarela deixava à mostra os braços, verdadeiras granadas em atividade, e as axilas bem cuidadas. A calça azul, justa, revelava outra arma fatal, que tinha entre as coxas musculosas. Como se precisasse de mais, era lindo de sorriso e cabelo, simpático dos olhos e tinha os pés grandes.

O garoto que o assistia em casa tinha a mesma idade e também vestia uma camiseta do Brasil, mas era magro e tinha as axilas peludas. A calça servia apenas para esconder as pernas finas. O sorriso cheio de gengiva, o cabelo desobediente e os olhos cansados ajudavam na contradição. Pelo menos, o pé e o pau eram qualidades — e isso não precisava querer igual. Outra semelhança era a paixão pelo mesmo esporte.

O garoto em casa, no entanto, nunca manifestou seu gosto na prática. Era um indivíduo que preferia a leitura aos exercícios físicos. Mas acompanhava Pan, Olimpíadas e Mundiais pela televisão, compartilhando a expectativa, como se estivesse na pele do ginasta, torcendo para que não houvesse desequilíbrios.

Sempre que estava envolvido com isso, pensava entre parênteses por que nunca se interessou em procurar um salão de treinamento de ginástica artística. Levantava diversas hipóteses: preguiça de se deslocar de bairro; falta de afinidade com a educação física; vergonha de ter que se exibir em competições; provável preconceito que enfrentaria com relação ao esporte. Mas não listava o medo.

Sabia, e por isso escondia, que o medo era o motivo principal por não ter se aventurado na ginástica. Tinha medo de se machucar, medo de ficar dolorido, medo de quebrar um cotovelo, medo de explorar os aparelhos, medo de sentir medo de alguma outra coisa. Por isso, deixou de viver o desejo de infância e o transferiu para os atletas que passou a admirar. Vivia por intermédio dos outros.

Na vida social, também era assim: imaginava-se namorando ao ter um amigo que namorasse; imaginava que saía à noite quando um colega ia para a balada; imaginava pular de bungee jump se um conhecido o fizesse. Dentro de seu quarto, evitava fortes emoções e se contentava com as histórias que lhe contavam. Esse tipo de sensação lhe era o bastante.

A ficção era um círculo vicioso.

Nisso, a ficha caiu, e o garoto percebeu que precisava deixar de se fazer iludido. Assim, respirou fundo e, no mesmo momento em que o ginasta na televisão soltou-se da barra para realizar uma acrobacia aérea, o garoto em casa decidiu que se livraria da sua própria barreira. Perdeu por um instante a concentração na apresentação. Quando viu, na hora de segurar a barra de volta, a mão de Petrix deslizou e ele caiu de bunda no chão.

A bunda!, o garoto em casa pensou. Era mais um coisa para invejar.

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