sábado, 20 de abril de 2013

Belinho



Pentelho é uma palavra escrota, e o adjetivo poderia ser, muito bem, um advérbio, já que indica o lugar exato em que eles crescem. Há pessoas educadas que preferem chamá-lo de pelo pubiano, outras mais escrachadas optam por cabelo do saco; aqui, para zelar pela estética do texto, ele será conhecido apenas por Belinho. E quem estiver lendo que julgue a qualidade literária desse batismo!

Por volta dos 10 anos, o menino já sabe que vai passar por essa mudança e que essa será a primeira de muitas, então começa a obsessão à busca do tão sonhado Belinho. Todo dia, durante o banho, ele examina muito bem o local: olha por cima, olha por baixo, levanta, joga para o lado... e não encontra nada. Algumas vezes, ele chega a pegar um urso de pelúcia antigo ou o cabelo da boneca da irmã e põe no púbis para simular como ficará.

No fundo, o garoto se consola com o pensamento de que “daqui a pouco nasce”. Conforme os dias vão passando e o daqui a pouco demora a chegar, a vontade de ficar peludo aumenta gradativamente. De tempo em tempo, ele dá um jeito de correr até o banheiro e olhar para baixo, para saber se o Belinho já chegou. Quando, ocasionalmente, empina pipa com os amigos, inventa uma desculpa para fazer a verificação.

— Vou ali dar um mijão no muro, já venho!

E mesmo com a bexiga tendo sido esvaziada meia hora atrás, ele fica de frente para a parede de tijolos, espia para confirmar que ninguém está espiando, e puxa o short para frente, junto com a cueca, na esperança de que já haja algum sinal de que a puberdade deu boas-vindas. Mas não acha nada, volta o short no lugar e retorna para desembaraçar a rabiola como se nada tivesse acontecido. Enquanto isso, outro amigo já se afastou com a mesma desculpa mictória.

Chega, então, um dia em que ele acaba se esquecendo dessa fissura e vai dormir. Quando acorda e vai para o banheiro no primeiro minuto da manhã, tem a surpresa: o Belinho está lá! Depois de longos meses de espera, os hormônios decidiram dar um presente, que ele faz questão de contar ao melhor amigo assim que o vê na escola.

— Já nasceu.

— Quem nasceu?

— O Belinho.

E o amigo fala instintivamente: “Viado, você teve primeiro do que eu!” ou: “Bem-vindo ao grupo, só que o meu já tá enrolando.” Após o bate-papo, o menino, que era criança, está oficialmente adolescente e pode passar os dedos nos fios corporais e fazer cafuné nas partes baixas até cair no sono.

O Belinho cresce, engrossa, fica em maior volume e começa a subir pelo umbigo. Passa um mês, passam dois, passam três — em alguns casos, passa até um pouco mais de tempo — e a novidade acaba. O menino espera até que todos saiam de casa, corre ao banheiro, pega a gilete que a mãe usa para raspar a perna e faz todo o circuito que vai do umbigo às coxas. Manda ralo abaixo qualquer vestígio que lembre o Belinho e volta a ter aparência de dois anos atrás.

2 comentários:

  1. Gostei joao muito dahora.
    To cheio de belinho hehehehe

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    Respostas
    1. Valeu pela leitura, Kleber!
      Cuide aí do seu "belinho" enquanto você não o manda ralo abaixo... rs!

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