sábado, 29 de junho de 2013

caminhão de lixo



foi uma manhã de descapricho
meu motor ligou com o diesel gelado
não tive vontade de entrar em movimento
mas a garagem empoeirava minhas velas

chegou o esquadrão de flanelas
a pancada de homens montou em mim
lixeiros que puxavam meu cabelo para se segurar
e a vontade de chorar me fazia poluir o ambiente

dominava-me interexternamente
o cheiro forte do elemento pútrido
expelido do tanque, expelido do coletor
e alimentavam-me com mais sacos 

passou um carro forte — e eu o fraco
prensando os sentimentos em angústia
as placas de ferro, os ossos quebrados
o coração, duas taças vazando chorume

o sonho que nos faz perceber
que não superamos uma fase que pensamos ter superado
é o sonho que nos faz perceber
que superamos a fase em que gostávamos de ter sonhos

havia lixo líquido degenerando em mim
havia lixo sólido sobrecarregando a mim
havia tanto lixo e manda mais pro lixo
e era tão demais prolixo
pois eu era o maior dos lixos

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