sábado, 18 de setembro de 2010

Tomando Nota


"Sou real. Nasci de uma máquina grande; eu e inúmeras irmãs verdinhas muito parecidas comigo. De fato a única coisa que nos distinguia era o número de identificação. Feita de papel-moeda, fui levada para passear num carro que, por algum motivo, diziam ser forte. Cheguei num renomado estabelecimento de crédito onde me guardaram num objeto curioso que chamavam de caixa. Fiquei na companhia de algumas primas de maior valor. Senti-me honrada!

Nesse mesmo dia, um executivo, rude e indelicado, foi pagar suas contas. O valor da dívida era alto: novecentos e noventa e nove reais. Ele deu à atendente dez cédulas azuizinhas e ela, sem dizer nada, simplesmente me entregou em troca. Surpreso pela conta não ter sido arredondada, o importante senhor saiu admirado com o lugar. Eis minha primeira façanha: aumentei o prestígio do banco!

Andando pela calçada, ele encontrou um mendigo implorando por auxílio monetário. Percebendo que o pobre cidadão faria melhor uso de mim, o áspero homem decidiu dar-me como esmola. Sem querer me gabar, consegui amolecer o petrificado coração de um ignorante!

Extremamente feliz porque havia ganhado um dinheirinho, o maltrapilho me olhava como se estivesse admirando o mais precioso diamante. Graças a mim, ele pôde comprar um cachorro-quente que, embora simples, serviu-lhe para forrar o estômago vazio. Assim matei a fome de um sem-teto!

O proprietário da lanchonete, após o expediente, passou numa casa lotérica onde me utilizou para fazer uma aposta. Dali a algumas horas, ficou imensamente maravilhado ao descobrir-se ganhador de uma bolada. Inesperadamente fiz o rapaz prosperar na vida!

O responsável pela parte financeira da casa de jogos, considerando-me lucro, resolveu agradar o filho e o presenteou comigo. O garotinho pulou de alegria e correu até a doçaria mais próxima para comprar um delicioso chocolate. Dessa maneira deixei uma criança feliz!

Na volta para casa, enquanto dirigia seu seminovo, a dona da loja de doces sentiu algumas tonturas e fortes dores de cabeça. Parou numa farmácia 24 horas e me usou para comprar um comprimido para seu mal-estar. Logo, ajudei a curar uma pessoa enferma!

Durante minha árdua vida, fui molhada, amassada, rasgada, remendada com fita adesiva, pisoteada, esquecida num cofrinho, jogada às traças... e, ainda assim, colaborei trazendo melhorias à vida das pessoas. Até que um dia desses acabei voltando ao banco. Esperava ser guardada naquela caixa onde conheceria novas amiguinhas, mas desta vez tive um destino diferente: fui recolhida. Agora estou novamente naquele carro forte e entendo o porquê do nome: ele está me levando à força rumo à destruição, afinal de contas, disseram que não tenho mais valor."

Depoimento de uma nota de 1 Real.

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