sábado, 5 de fevereiro de 2011

Primeira vez no mercado


Soraia, embora pareça absurdo, nunca tinha entrado em um supermercado. Sempre passava em frente e ficava olhando as pessoas estacionando seus carros — outras vindo a pé — e enchendo um carrinho com mercadorias. Seu sonho era um dia fazer isso.

Todavia, a culpa de nunca ter ido ao mercado não era só dela. Quando era bebê, sua mãe não gostava de levá-la, pois tinha medo de acabar esquecendo-a por entre os corredores.

Quando completou cinco anos, sua mãe continuava sem levá-la, pois temia que a desobedecesse e caísse no choro em meio as outras pessoas, por isso, deixava-a com sua irmã.

Quando se tornou adolescente e já sabia se virar sozinha, não ia porque seus pais sempre compravam o que ela queria e não precisava, pois, fazer compras.

Após sair da casa dos pais para morar sozinhas, Soraia continuou não indo, pois sempre ligava para que o serviço de entregas trouxesse as coisas até sua casa.
Sendo assim, Soraia acabou não sabendo qual é a sensação de fazer compras, até o dia de seu pagamento. Nesse dia, ela saiu mais cedo, pois ia comprar alguma coisa no supermercado, mesmo que não precisasse de nada.

Com o coração batendo mais forte, ela entrou no mercado. Seus olhos brilharam ao ver os corredores com prateleiras repletas de mercadorias. Primeiro, pegou um carrinho. Sentiu vontade de chorar quando tocou suas mãos nele. Depois, entrou no corredor de massas.

Com as mãos tremendo de emoção, pegou um pacote de macarrão. Colocou no carrinho. Pegou um pacote de lasanha. Colocou no carrinho. Viu que estava sendo legal colocar tudo no carrinho. Foi para outras prateleiras e continuou pondo tudo o que via no carrinho.

Quando o carrinho estava cheio, ela entrou na fila do caixa. Uma lágrima escorreu no seu rosto. Quando chegou a vez dela, sentia vontade de gritar aos quatro ventos. A mulher do caixa começou a passar a compra, enquanto um ajudante ia guardando tudo no saquinho plástico.

A emoção foi maior ainda quando um dos produtos estava com o código de barras amassado e a leitora não registrou, e tiveram que chamar um funcionário para verificar o preço. Finalmente toda a compra tinha sido computada.

— São 250 reais.

Soraia pagou. E foi em direção à saída do mercado feliz da vida. Quando colocou um dos pés para fora, a mulher do caixa gritou:

— Ei, você não vai levar sua compra?

— É claro que não! Eu já paguei por ela. Por que levaria?

E com a cabeça erguida e um sorriso no rosto, andava pela calçada, como se estivesse andando nas nuvens.

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