sábado, 3 de setembro de 2011

A Morte do Pavão


Um pavão velho com somente quatro penas estava sentado no meio de uma campina quando um urubu apareceu para rodeá-lo. O pavão olhou o urubu com desprezo.

— Posso saber o que é que você quer sobrevoando aqui?

— Tô com a maior larica, tiozinho. E como senti cheiro de carne podre a caminho, vim dar uma olhada.

— Pois eu não vejo ninguém à beira da morte, por perto.

— Essa sua força de vontade, eu admiro.

— Desculpe, mas não sei do que é que você está falando.

— Qual é, pavelho? Veja só pra você: só tem quatro penas. Sua carne já está com passaporte comprado pra minha pança.

— Se for depender da minha morte para conseguir alimento, esteja certo de que é você quem morrerá... de fome.

Então, uma das penas do pavão se soltou.

— Rá! Foi só falar, acabou de perder uma pena. Mais três, e cê vai pro beleléu.

— Não perdi nada. Esta pena, só tirei de mim para anotar as besteiras que você fala.

O pavão pegou a pena e rabiscou na terra. Enquanto isso, outra pena se soltou.

— Rá! Outra pena. Vai dizer que também tirou ela porque quis ou vai logo assumir que tá uma ave gagá?

— Gagás devem ser suas ideias. É óbvio que esta pena eu tirei porque preciso fazer um miniespanador. Não vê como este chão está cheio de poeira?

O pavão pegou a segunda pena e limpou um pedacinho do chão. Enquanto isso, a terceira pena se soltou.

— Xi... Seu papo furado não tá adiantando nada. Outra pena acabou de cair.

— Pois esta é para ver se diminuo seu baixo astral, lhe fazendo cosquinha.

O pavão tentou, sem muito sucesso, alcançar o urubu para lhe fazer cócegas com a pena. Nisso, a última pena se soltou.

— Agora, com a queda da sua última pena, cê aceita que tá morrendo?

— Que nada! Deste jeito, depenado, estou como uma ave que acabou de sair do ovo. Na certa, estou renascendo.

O pavão se levantou devagar e, a passos caquéticos, foi para bem longe do urubu.

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