sábado, 19 de novembro de 2011

Os pombos de fita vermelha



O fazendeiro morava em um barraco de madeira, um lugarzinho tão apertado que até parecia uma casa de pombos. Ele era apenas um dentre tantos outros fazendeiros que residiam num lugar chamado Campos Gerais.

Só que ele não queria ser igual aos outros e, então, inventou algo para se destacar. Começou a usar uma meia vermelha amarrada na perna. Ela aquecia nos dias de frio e ainda protegia das pancadas na canela.

Em uma manhãzinha, ele dava o nó na meia quando ouviu um barulho esquisito no telhado. Decidiu olhar o que era e viu que, sobre sua casa de pombos, havia um casal de pombos.

Eram dois pombinhos brancos que se desviaram do bando. Estavam perdidos e ciscavam no telhado em busca de uma migalha de pão que também estivesse perdida.

O fazendeiro sentiu pena, subiu na escada e apanhou os pombinhos. Passou a mão pela pena, viu que era macia, de uma raça rara. Eram especiais e, por isso, ele os adotou como pombos de estimação.

Só que ele não queria que seus pombos fossem iguais aos outros e, então, amarrou uma fita vermelha na pata de cada um. Isso provou o velho provérbio de que “o animal é a cara do dono”.

Infelizmente, um dos pombos estava muito doente e quase nem abria mais o bico. Os olhinhos mostravam a dor. O fazendeiro tentou dar um remédio que tinha, mas o coitado não conseguiu se curar. O outro pombo ficou sozinho.

Foi uma notícia muito triste, mas uma novidade boa estava chegando. Miguel da Rocha Carvalhaes, proprietário geral dos campos, havia decidido doar parte das terras aos fazendeiros para que eles formassem um novo povoado.

Os fazendeiros não perderam tempo e se reuniram para discutir qual seria o ponto de partida, o centro da povoação. Ali, construiriam uma Igreja em homenagem a Sant’Ana, padroeira de todos aqueles homens e suas famílias.

— Um pouco mais à esquerda.

— Um pouco mais à direita.

— Não, não... Tem que ser aqui mesmo.

O fazendeiro da meia vermelha queria ajudar, mas não sabia como. Olhava para seu pombo que parecia chorar pela morte do amigo. Entendeu que sensibilidade de bicho é maior do que intuição humana.

Então, começou a rezar para que Sant’Ana lhe deixasse tão sensível como um pombo. Dessa forma, saberia o lugar exato para que a Igreja fosse construída. Rezou com tanta fé que, por um passe de mágica, se transformou em pombo.

Um pombinho branco, com pena macia e de raça rara. Na perna, a meia vermelha havia se transformado em fita. Fez amizade com o outro pombo e decidiu que queria permanecer pombo para sempre.

Os dois arrulharam para Sant’Ana em agradecimento e voaram até o alto de uma colina, atraídos por uma enorme figueira de frutos suculentos, e pousaram sobre uma cruz vizinha que tinha as extremidades mais amplas.

— A Igreja deverá ser construída naquela cruz de ponta grossa!

Dessa forma, construiu-se a Igreja de Sant’Ana. Abençoada pela santa, a população passou a habitar ao redor da igreja. E a Ponta Grossa da cruz batizou a nova região.

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