sábado, 23 de março de 2013

A maldição do peitinho



Nunca fui o tipo de cara que andava sem camisa, especialmente nos anos iniciais da adolescência. Mesmo que eu quisesse aliviar o calor ou pegar um bronze, decidia poupar a visão das outras pessoas, já que meu físico só interessaria a uma aula de ciências sobre análise de ossos torácicos. O único momento em que podia ficar despido sem causar danos aos olhos alheios era na hora do banho, e foi numa dessas duchas que constatei o fato: estava crescendo um peitinho.

O fenômeno aconteceu apenas no lado direito — o mamilo inchado, saliente. Olhava para aquilo e não sabia dizer se era um terceiro testículo que estava nascendo no lugar errado ou se alguém havia implantado uma pequena prótese de silicone enquanto eu dormia. Lembrei que já tinha ouvido que alguns meninos tinham “fimose”. Fiquei pensando se a palavra “fimose” queria dizer o mesmo que peitinho; mas as imagens nada bonitas que a internet me mostrou me fizeram perceber que esse não era o meu caso. Enumerei, portanto, três hipóteses sobre o que poderia estar acontecendo.

A primeira era que eu havia nascido hermafrodita. Provavelmente, enquanto bebê, uma cirurgia me deixou apenas com os órgãos sexuais de homem, mas, com o avanço da puberdade, meu lado feminino — como se as coisas funcionassem cientificamente assim — estava se desenvolvendo. Eu passaria a ter um único seio e, talvez, a menstruar pelo nariz ou pelo ouvido, além, é claro, de me tornar manchete no telejornal de domingo.

Outra ideia, ainda mais esquisita, era a de que alguém que não gostava de mim havia jogado uma maldição: a maldição do peitinho! Depois de uma reza braba feita com vaca preta em vez de galinha, eu estava condenado a ter um mamilo que inflaria como balão e um dia explodiria como um furúnculo gigante.

A última tentativa de justificar a situação era a de que eu estava com uma espécie de câncer de mama masculino. E isso começou a me preocupar tanto que fui ao médico. Chegando lá, mostrei o carocinho para ele.

— Doutor, é grave?

Ele sorriu e disse que era apenas um caso de ginecomastia, que acontecia com quase todo menino, que era uma concentração de hormônios, que logo voltaria ao normal, nada mais do que isso. Insisti:

— Tem certeza que não é macumba?

A boca dele tornou a dizer que não era nenhuma anormalidade, mas garanto que a mente pensou na seguinte resposta: “Esses adolescentes...”

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