sábado, 8 de setembro de 2012

Se Fernando Pessoa rima com Lisboa...



Por que é que João Paulo Hergesel não rima com Alumínio? A resposta pode variar entre estas duas: (a) porque eu não sou um escritor de verdade; (b) porque nasci no lugar errado.

Vangloriando-me um pouco e tomando como certa a segunda alternativa, fiquei me perguntando o que seria melhor: naturalizar-me em uma cidade que rime com meu nome (como Ilhéus, Morro do Chapéu, Montevidéu) ou mudar meu sobrenome para algo que rime com Alumínio (como Plínio, Abissínio, Patrocínio). No pior das hipóteses, Alumínio é que poderia mudar de nome, para Porta do Céu, por exemplo.

Então, um dos meus neurônios, raciocinando, quis resolver esse impasse, alegando que, embora eu more em Alumínio desde bebê, minha terra natal é Sorocaba. Essa solução, na verdade, não ajudou em muita coisa, pois Sorocaba tampouco rima com João Paulo Hergesel. Talvez eu devesse inventar um pseudônimo para começar a assinar meus trabalhos: Bicho-da-Goiaba! É a minha cara e rima com Sorocaba.

Mas a ideia do pseudônimo ainda não havia me deixado satisfeito; não estava feliz em ser um inseto poético. Tentei rimar meus nomes do meio, Lopes e Meira, mas não tive bom resultado. Foi quando passei a imaginar que a primeira alternativa é que pudesse estar correta. Mesmo participando de diversos concursos literários, publicando livro, escrevendo para jornais e blogs, estudando Letras e marcando presença em tudo quando é evento ligado à literatura, talvez eu não tenha nascido para a escrita.

Algumas doses dessa cruel e suposta realidade me fizeram viver uma frustração artística por um tempo. Mas logo dei a volta por cima e preferi pensar que, com Fernando Pessoa, tudo não passou de uma coincidência. Não é a rima do nome com a cidade natal que define o escritor. Exemplos disso são que Clarice Lispector não rima com Tchetchelnik, Vinicius de Moraes não rima com Rio de Janeiro e Monteiro Lobato não rima com Taubaté.

Já havia até me conformado, mas ainda não estava totalmente feliz: se Fernando Pessoa pode, por que eu não posso? Enquanto perdia tempo matutando sobre isso, uma amiga da faculdade, vendo meu desespero, resolveu logo o problema: o escritor João Paulo Hergesel só pode ter vindo do Beleléu! É um lugar misterioso, indeterminado, que não aparece em nenhum mapa, mas que certamente está repleto de imaginação e criatividade.

Desde então, me senti mais poeta.

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