Entrou na loja, o olhar indecifrável. O tronco comprido estava coberto por uma manga longa de malha que destacava a magreza e combinava com o sobretudo. Sua preferência por cores escuras era notável pelo preto que descia da cartola e ia até os sapatos. Apoiou-se na bengala e caminhou mancamente até o balcão. Os dedos finos tocaram lentamente a madeira envernizada e a voz rouca pediu:
— Um frasco de arsênico.
Aterrissou a carteira perto do caixa e pegou calmamente o saquinho de papel que continha a cura para sua doença terminal. Foi para casa, colocou o vinil dos Beatles na vitrola e se sentou. Ao som de Paul e Lennon, deu três goles tranquilamente e repousou as pálpebras cansadas. Em poucos minutos, o espírito imergiu as profundezas do céu e foi tocado suavemente pelas estrelas.
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