Menção Honrosa no 8º Prêmio Barueri de Literatura
Começo em “era uma vez”
Essa história de Qiü Jia,
Descendente de chinês
Que morava na Bahia
E que, em toda sexta-feira,
Vende laranjas na feira
Para ajudar a família.
Com seu típico bigode
E sua pele amarelada,
Jamais amarrava o bode;
Tinha a risada estampada.
Vinte e dois anos de vida
E a simpatia contida,
Atraía a mulherada.
Na barraquinha da frente,
Moça de nome Apuana
(De indígena, descendente,
Mas soteropolitana)
Vendia abóboras boas
Que agradavam as pessoas
Pelo seu sabor bacana.
Toda sexta, tinha gana,
Portanto, ele anunciava:
— Seleta, lima, baiana...
(Da baiana, ele gostava)
— Tudo, tudo baratinho
E com sabor bem docinho
Para donzela ou escrava!
Também nesta mesma feira,
Ela, logo na subida,
Vendia de tais maneiras:
Assada, frita ou cozida.
Tinha abobrinha e moranga
Praquele que não se zanga
Porque saboreia a vida.
Esta jovem e este moço
São casal por natureza.
Ela, oferecendo o almoço;
Ele, dando a sobremesa.
Abóboras e laranjas:
Felicidade se esbanja!
Até que houve uma peleja.
O chinês quis divulgar
Uma receita mineira:
— No forno, vamos assar
Pato com laranja-pera!
Nisso, a abóbora perdeu,
Pois ao povo apeteceu
Essa mistura maneira.
Possessíssima de raiva,
Pele-vermelha estressou.
Ousada que nem saraiva,
Uma delícia inventou:
— Provem do doce de abóbora,
Pois garanto que não sobra
De gostoso que ficou.
Os fregueses não sabiam
De quem ou o que comprar
Se abóbora consumiam
Ou laranja, no jantar.
Deu-se, assim, a grande briga
Entre o amigo e sua amiga
Que passaram a se odiar.
Qiü Jia teve a batuta
Oferta comercial
Para ir vender suas frutas
Lá do lado oriental.
Tomou logo a decisão:
Embarcou num avião
De voo internacional.
Salvo a cesta de legumes,
Apuana está sozinha.
“Sem a faca de dois gumes,
Não se corta uma abobrinha.”
Dessa forma, a freguesia,
Sem ter opção, preferia
Comprar quilos de farinha.
E os negócios iam mal
Com as laranjas na China.
Não gostavam, nem com sal,
Mandaram pra Cochinchina.
Preso no Inferno de Dante,
Pensou: “Neste mesmo instante,
Volto pra minha menina!”
Acredite: houve até canja
Para o encontro entre esses dois.
Romance cor-de-laranja,
Protagonizaram, pois,
A indiazinha e o chinês.
No lugar de “era uma vez”,
É melhor: “uma vez foi”.
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