Selecionado para publicação no Jornal de Alumínio Regional – 2010
Um movimento tímido e lilás,
Uma maciez branca e calma...
Flor de maracujá que se soltara,
Pousando sobre mim em doce paz,
Tocando a pele, acariciando a alma.
A indefesa vítima de suplício
Que aconcheguei na palma da mão,
Com a elevação da temperatura, murchara,
Sentia nas pétalas o solstício
— A primavera virara verão.
As camisetas se libertaram dos armários,
Dos corpos de alguns inclusive,
Os dias ficaram longos; a Lua trabalhava menos.
Era (e estava anotado em todos os calendários)
A estação do ano para quem realmente vive,
Mas cujo amor prometido eu nunca tive.
Não sabia o que era uma paixão estival,
Nem a sensação de amar sob o astro-rei,
Até que a estação mudou dentro de mim.
Num inesperado encontro casual,
Descobri o sentido do mamihlapinatapei*.
Amor correspondido na troca de olhares,
Olhares correspondidos na hora do amor.
Envolvi-me num verão eterno.
A cena, então, se repetiu em novos ares:
Flor de maracujá que caiu expressando dor.
Uma flor já sem simpatia,
Seca, sem vida, a desfragmentar.
O equinócio trazia o outono consigo,
Mas o verão por completo não se apagaria;
Ainda seria verão em algum lugar.
*Mamihlapinatapei: em fueguino,
dialeto chileno, o olhar de desejo mútuo em que ambas as partes sabem o que
querem, mas não dão o primeiro passo.
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